terça-feira, fevereiro 28, 2006

O post que devia ter sido publicado ontem

Ha! Terça feira de cinzas. Dia de Carnaval. Dia de máscaras, dia de mulatas escaldantes a entrarem pela nossa casa casa a dentro vindas directamente da Marquesa de Sapucaí, dia de traquinices, que ninguem leva a mal. O português é um bicho estranho durante estes dias, aproveita o dia de carnaval para se expôr de uma maneira diferente de todos os outros dias, já que é católico todos os seus desejos tendem a manifestar-se privadamente. Como seria se o carnaval fosse como muita gente diz do natal. Como seria se o carnaval fosse quando o homem quisesse? Seria bom? Seria benéfico para para a pessoa comum? Não sei, para mim o carnaval serve de desculpa para mais um dia de embrutecimento, para chegar a casa de manhã depois de uma noite de divertimento e de alguma folia. Já que para mim o carnaval é quando eu quero.

Mas o que é que estou eu para aqui a dizer, nem eu sei ao certo, já que a ressaca fala mais alto nesta altura.

Sim, folia. É disso que se trata o carnaval. Beber, dançar, gozar, divertir, aproveitar o dia. Sim que vem aí a quaresma. A seguir teremos que ter moderação e teremos que fazer jejum. Não me parece que seja isso que acontecerá. Pelo menos para mim. Que continuará a ser a mesma rotina descontinuada pelos dias que virão. Dias esses que para mim serão um carnaval, uma rambóia constante para esse entrudo que é a vida. Porra que lá vem Março, olhei agora para o calendário e um feriado nem visto. Lá terei que criar eu os meus próprios feriados.

Depois deste momento de azia aqui me despeço porque estarei a ficar um bocado mal disposto e vejo a casa de banho a aproximar.

domingo, fevereiro 26, 2006

The simple things – or the meaning of life

Há tanta coisa que nos passa despercebida quando todos os dias, tentando criar a nossa felicidade, caminhamos pelas ruas iluminadas de compras. Tantas mãos sujas a tentar agarrar um pouco do perfume que a algibeira exala; tantas crianças ranhosas, sujas nos braços de mães que precisam extorquir a misericórdia que alimenta os vícios; pequenas doenças à porta de igrejas para comungar da benevolência…
Porto, estas são as ruas, estas as pequenas pessoas. Muitas vezes fico parado, tiro-lhes fotografias que não mostro a ninguém, cujo único propósito é fixarem quem não é visto, quem é ignorado abertamente até por mim, na minha febre de vida e de alienação.
Não sou diferente de ninguém, em nada melhor: tenho pressa, não tenho paciência nem moedas para as histórias de aterrorizar de ninguém… vivo na cidade há demasiado tempo para ainda acreditar na bondade inerente às pessoas: espero o perigo de qualquer lado, sob qualquer forma e por isso encarcero-me dentro de prisões plásticas que a televisão me diz para comprar e de onde não consigo alcançar ninguém…

Três episódios que ilustram o que anda aí fora:

Gaia, caminhava perto do largo dos aviadores quando vejo do outro lado da rua uma mulher a ser insultada por um gajo de pinta duvidosa; estalo da prache, silêncio comprometido, ninguém viu nada, ninguém agiu tolhidos pelo medo da “não-interferência”. Tenho fotos da mulher que não se atreveu a ir embora depois de ter sido agredida e do “homem” que a acompanhava.

Porto, já me aconteceu de tudo desde ver senhores de fato, grande Mercedes e pinta de director comercial a visitar as putas mais horríveis da cidade, dois cidadãos de cinquenta anos a agarrarem-se pelos cabelos e a enfiarem as suas cabeças quase calvas contra portas na raiva de qualquer gesto inobservável, avozinhas de todos nós a comerem o lixo de ninguém, gajos cobertos de pó que chegam perto de ti, se sacodem anunciando placidamente que vieram a pé de Madrid, e perguntam se ninguém tem um caneco, gajos que te pedem cinza para fumarem um caneco, gajos que te pedem um euro para comer uma sopa que sabes que nunca o irá ser, motoristas que te tentam atropelar porque atravessas no vermelho sem olhar, outros que fecham as portas com o terror do telejornal da TVI estampado no rosto, gajos com óbvios problemas com drogas duras a exigirem o pagamento da piedade que inspiram… não sei qual escolher… além do mais, se tudo isto me acontece, diz a sociedade, é porque faço algo que faz com que isso aconteça. Terei de ter mais cuidado com o meu aspecto de hoje em diante…

A caminho de casa, criança de seis anos a brincar na camioneta, mãe entediada por mais um dia de trabalho excessivo e mal pago, queixas da mãe, ruído excessivo, “estás a ser uma criança!”, eu tento ler o meu livro, fazer de conta que nada daquilo está realmente ali, mas não consigo: volto à realidade a tempo de compreender que o ruído que ouvi foi a mãe a bater na cara da miúda, a cabeça embateu na janela, choro imediato… Saí e fui a pé…


José de Arimateia, abrigado na marquise devido à chuva…

sexta-feira, fevereiro 24, 2006

O Laranjal....Portugal.....Calamidade e Embuste Total - La República de los Plátanos - Parte I

Terra de charlatanice, berros e queixas inconsequentemente sem fim! Canteiro onde os magos defraldam expectativas e "desígnios" sagrados.... cumprimentos do V Império dos lunáticos, alforge de mentiras e enganos, com o objectivo do venha a nós o vosso e o Zé Pequenino que se lixe e se desenmerde. Todos roubam, todos fogem, todos se mascaram atrás de uma figura plácida e bondosa de católico cumpridor e não utilizador do preservativo. Mas afinal de quem é a culpa...?
Não interessa, se quem manda não é responsabilizado, porque hei-de ser eu!?!? Apenas um mero filho das estrelas encalhado neste depósito de gente e lixo ao ar livre. Pois está claro que a ascenção política é feita como a de um balão de ar quente, uma bolha cheia de nada e deitar fora pesos excessivos, os valores e princípios, pelos quais supostamente se degladiam na praça de S. Bento. Um bando de charlatães que usurpam e usuram tudo o que é desta gente de brandos costumes, mendigos bem vestidos, burros diplomados, répteis rastejantes que aspiram à verticalidade ilusória da sua tão propalada competência. Só me pergunto, naquele momento de reflexão matinal sentado em posição boçal, libertando vozes, aromas e quorums politiqueiros, porque é que com tanta gente competente (que se dizem tal) isto chegou onde chegou....?ou não chegou, pois para chegar é necessário partir...! Façam-me um favor meus idiotas enfarpelados e ide todos prá Cova da Iria ver se o Sol dança.... se tal acontecer avisem-me, pois aconselhar-vos-ei a deixar a droga para quem definivamente pode com ela!

Vejam bem a noção de justiça deste país, os corruptos governam e são governados pela mão invísivel do $$$$$, pedófilos pobres e desconhecidos são sumariamente julgados com o mesmo nível de provas judiciais que os pedófilos ricos, famosos e políticos... Estes últimos até têm direito a cela privativas com todas as comodidades e luxos.... Por amor de deus em que não acredito, então a justiça não é cega e igual para todos!?!?!?!? Vocês não os mandam para uma cela comum porque sabem o que acontece a esses doentes na Choldra.... e deve custar-vos ver um amigo vosso ser rachado ao meio pelo esfincter.... o problema é que é merecido! Afinal ainda se vive num sistema feudal de lords e ligações mais ou menos duvidosas (enganou-se mais uma vez o povo, que é um miúdo tolo com um rebuçado chamado Abril....) Acho que vocês andam a vender a banha da cobra meninos inúteis... e no dia em que isto rebentar, estejam atentos, atrás de uma esquina ou mesmo na vossa cara estarei eu de cacete na mão para vos mostrar o quanto custa afinal meterem-se com quem só quer viver condigamente sem a vossa interferência nefasta. Mudem para melhor, ou arrisquem a ira popular.... Está nas vossas mãos..... porcos! (Sim, ainda sou um idiota que espera que essa massa disforme de germes se erga e se façam Homens)

Só uma palavrinha mais, desta vez aos nabos fascistas, skins, neo-nazis e outros palhaços burlescos desta sociedade do atavismo, não julguem que é com essa demagogia fácil de se atirar a culpa para cima da parte mais fraca (imigrantes) que vão chegar onde querem.... O vosso tempo passou, enojou e bastou... Mas não se preocupem, um dia destes, neste jardim plural e equalitário, vocês serão analisados mais exaustivamente.... tipo macacos numa jaula!

Sim meus amigos, este povo é ignorante e é indolente, averso a pensar e proceder. Incrédulo em aparência, permanece sempre bom católico, acredita na Providência e nos milagres.

CHARLATÃES CONTEMPORÂNEOS

"Alegra-te Zé Povinho
que nasceu agora o Cavaco.
E sentindo-se contente
da sua grande esperteza,
votou e ele canta alegremente
num estilo de Grã-Duquesa:

Eu cá sou o Silva
General Bum Bum
Sou EU! O Herói! O Sábio! O Tosão de Ouro!
O que deslumbra, fascina, brilha, manda, rapa e engana...
Dou cartas, rédeas, chicote, esporas, tudo tendo
Assombro e conivência dos Compadres e dos Mundos!!!

Conheço muito bem o Zé Pagante -
Por isso cá estou e comigo se haverá..."


Para finalizar transcrevo um manifesto eleitoral republicano de 1907

"ABSTER-SE de votar é crime de LESA-PÁTRIA.
VOTAR nos ROTATIVOS é levá-la à completa RUÍNA.
Confiar nas promessas da regeneração "franca",
de quem até hoje só tem dado provas de incompetência e maus instintos,
é patentear a maior ingenuidade de que se deve envergonhar todo o bom português."


.....100 anos depois....

Não aprender e dar o voto em troca de isqueiros, canetas, calendários, vinhos, chouriças e comezainas, é o pão nosso de cada dia neste laranjal à beira-mar despejado.


Nota: Portugal em todas as variantes de árabe, grego, persa e outras línguas que agora me escapam significa nada mais nada menos que -laranja- esse fruto tão saudável e doce, do qual esta terra teima em ser antítese! Porquê!?

Saudações fraternas a todos de boa índole.

Esboço de um negócio quase perfeito.

Se me sento na relva húmida e olho em volta com o olhar de um eterno procurador de negócios, o primeiro pensamento que me assalta é hoje claro: vou abrir uma faculdade. Vou estabelecer-me à séria. E logo começo a esboçar as primeiras notas, não vá a memória atraiçoar-me e deixar de fora as melhores ideias, as que surgem na inspiração e se concretizam com trabalho.

Surge então a necessidade de definir a estratégia, que passa obviamente pela escolha dos públicos e dos cursos a leccionar, bem como tudo o que se me ocorre de imprescindível à minha faculdade (área de implantação, infra-estruturas e equipamentos) tendo em conta a lotação das salas, os espaços de lazer, todos aqueles cantos, meios cantos, vãos de escada, elevadores, armários, fax, panos do pó, quadros e apagadores, computadores e projectores, mesas e balcões, os bares dos alunos e dos doutores, dos doutores diplomados e dos doutores trajados, dos trajados porque gostam, dos que trajam não sabem porquê, dos que não trajam. Contas feitas preciso de salas e cadeiras, o que falta fizer compra-se devagarinho, conforme o que colher do meu negócio que isto não pode ser tudo à bruta e não tarda haverão fundos para grandes investimentos, grandiosas atracções e renovações para manter o cliente satisfeito.

Professores há-os na praça a bom preço e isso não será problema, até porque professor é professor e é quanto basta. Se não o é, aprende. Os bons, a maioria diga-se, terão de seguir a batuta do negócio pois se o negócio for bem, bem irão eles como parte integrante da minha empresa. Há muito que se atestou que tempo é efectivamente dinheiro, exige-se então senhor professor que planeie estas matérias para um estreito espaço de tempo, e já sabe que quanto mais fregueses angariar-mos para a sua sala, mais proveitos teremos, mais auferirei eu e mais ganhará, quem sabe, o senhor professor. Sim? Essa pendência relativamente à viabilidade das disciplinas muito frequentadas: bom, descanse, subtrairei em tudo menos nas cadeirinhas, e se problema houver quanto ao espaço, não há nada que uma cadeira d’ali outra d’acolá não resolva. E depois, senhor professor, cuido que serão mais as cadeiras vazias do que as habitadas. O tempo vai consumindo o público, e não se preocupe o doutor com a assistência que se vai porque o melhor cliente é aquele que paga mas não leva, e levando, leva pouco.

Carecerei de professores, um edifício e alunos. Antes dos alunos, não vá esquecer-me, o que irei ensinar na minha faculdade? Medicina. Medicina é sempre prestigiante. Terei os melhores alunos do país a pelejar pelos lugares da minha faculdade. Todavia, e examinando com a minúcia que este meu investimento me merece, concluo que medicina poderá ser um sorvedouro de fundos. Ora os equipamentos, as máquinas, os apetrechos, os instrumentos diversos, o público que só aprende no seu lugar e que torna espaço vazio em espaço ocupado, o que quer dizer pagar o mesmo e levar muito mais.

Para as medicinas não vou. Das coisas laboratoriais urge fugir. A conjuntura não abona tais megalomanias porque o negócio só é bom se for proveitoso… As Letras! Uma sala, um professor, umas cadeiras, uns alunos. Vou ensinar as letras, as literaturas, os grandes autores, as grandes obras. Coisas muito boas porém baratas! Este é decididamente o “sector de actividade” mais vantajoso no negócio das faculdades, é nesse que aplicarei os meus esforços.

Já sei o que levar aos públicos, apalavrei uns professores de boa qualidade, os alunos virão por diversos caminhos que isto é coisa que encanta a todos. Há os alunos que chegarão pelo seu pé, os que comparecerão porque não há mais para onde ir, os que chegam obrigados, os que me escolhem porque sou barato, os que pensam em trabalhar com um dos meus cursos na mão, os que apenas querem um curso, os que precisam de férias, os que precisam de emprego, os que não precisam de emprego mas precisam de férias, os que estão de férias porque estudam e os que estudando em férias estão, porque em férias se fazem os cursos que os meus professores venderão. São os ofícios. Este a cada dia mais para isto do que para os ensinamentos. São os empregos. E só é empregado aquele que dá o meu tempo por bem empregue, e porque do meu tempo se trata, quero empregá-lo assim, nos rendimentos.

Ofereço sociedade séria, com futuro promissor.

Só acautelo para um problema. Grave por sinal. A concorrência!

Babince

quinta-feira, fevereiro 23, 2006

...Jardinages...

Bem hajam....

Estou em casa a jardinar pela terceira vez e vamos ver se é desta que concluo o meu serviço! Ontem a madrugada limitou-me e limitou também minha máquina de escrever fazendo-me perder duas vezes o fio à meada! Está muito difícil…

Mas como ia dizendo….

...É incrível o jardim, é fabuloso o que representa, é fantástico o que nele encerra, é lindo o que ele juntou!

Infelizes aqueles que não compreendem a magnitude do jardim!

Agora, há uns anos ou até de verão. De cor verdes ou em tons amarelo. Sozinho, solitário ou solista. Acastanhado de quilo ou de preenchimento florido. Com cartão, sem cartão, das vermelhas ou em tamanho de rei. Do grosso ou do bom, de moagem fina ou mais carrascão. Colectivamente individual, meia casa por vezes ou naturalmente repleto. Rebelde sem calça, pária todo nu, insubordinado ou bófiofóbico! Das caras lindas e dos sorrisos de meninice. Idealizado, ideal e idealizante! Da tertúlia e dos murmúrios. Culturalmente avant-garde em momentos retrospectivos, enciclopédico de café com latte. Esfumaçado ou esfumassante. Melting pot de cariz familiar ou outrem! Lounge de longe ou perto, chill sempre out ou atascado chic!

É unanimemente um espaço único!

Talvez um dia o tempo feche para balanço e alguém possa elaborar coloquiando uma tese verdadeiramente aprofundada sobre as componentes localizacionais, edáficas, hidrográficas, literárias, ocultas, paisagísticas e universais que compõem o jardim, esse espaço único delimitado no físico mas infinito no pensar. É completamente transcendente, e decerto haverá por aí explicação racionalmente cintífica para o que sucedeu por esse ervado. Proponho desde já aqui a formação de um Comité Superior do Jardim no sentido de encontrar a verdadeira razão da magia que ali aconteceu!

Tudo se foi agremiando num espaço que sente, fez, faz e fará sentir!

Foi a minha meninice, o meu armário, a minha rebeldia, o meu escritório, o meu matrimónio, a minha tropa, o meu café…

Somos nós!

Podem de momento fazer o que quiserem, atirarem-me com desígnios arquitectónicos progressistas, dizerem-no perturbante para a vista docente ou aliciante para a discente, podem até dizer-me que têm cortar no orçamento e que vão começar pelas águas para rega ou podem mesmo não dizer e fazê-lo sumir…Agora permito-lhes tudo! Ele foi virtualizado…

...É eterno pois os gajos também o são!

Benditos esses que virtualizam os jardins do nosso coração!

Ai jardim…ai jardim…

de um menino perfeitamente identificável…

quarta-feira, fevereiro 22, 2006

"O Jardim"

"Há tanto tempo que não me ocupo do jardim, a ultima vez estava frondoso, a buganvília a tingir-se de vermelho. Inventávamos planos de rebelião, sonhos de transmutação, passavamos horas a inventar com a nossa vontade de tudo abarcar, era um frenesim constante. Faz-me pena agora olhar para ele, para as suas sebes abandonadas, de ramos retorcidos, jaz tombada a grande cerejeira de quilo e uma enorme cratera substitui os belos canteiros de outrora..."
Excerto de " O Jardim" de Mão Morta (ligeiramente adulterado)

Acho estas palavras de Adolfo Luxúria Canibal apropriadas a esta fase inicial do Jardim Virtual, a este novo fôlego do Jardim e dos gajos que o habitam ou habitaram. Apesar de uma certa nostalgia lamechas nestas palavras, as memórias de quase meia década de "jardinagem"obrigam-me a recordar com saudade as aventuras e desventuras vividas no Jardim propriamente dito ou noutros locais, mas sempre com os "Jardineiros" do costume.

Vivemos episódios e situações que fariam um sketch de Monty Python parecer a coisa mais lógica e normal do mundo e sendo esta uma nova fase de jardinagem espero, ainda assim, que se escrevam várias crónicas sobre as memórias do Jardim e dos gajos que fizeram dele um lugar idílico onde a realidade se fundia com a fantasia e a inconsciência era, não raras vezes, colectiva e de onde emanavam vários guiões para curtas ou longas metragens.

Até á próxima!

Chuiquinho aka Chiquince aka Chiking

Epístola a Pacheco Pereira

Caro “Colega”,

Venho por este meio apresentar-me à sociedade dos blogs e consequentemente da informação. Por motivos que me são completamente alheios, relacionados com pressões da parte do administrador deste blog para uma maior celeridade na minha estreia, atrasada por sinal, não poderei anunciar-me perante a “ciber-nata blogueira” segundo os preceitos da minha estirpe, o que passaria por uma recepção informal com beberete e canapés, num qualquer hotel de 5 estrelas. Assim sendo, sem estar a par dos mexericos da blogosfera, não poderei escrever nada de interesse substancial.

O vazio de ideias é uma coisa terrível, sobretudo quando aliado à fraca criatividade. Daí não é de espantar que o nome de pessoas idóneas e provenientes de “boas famílias” (ninguém em caso algum deve ser discriminado por essa ocorrência, ou pela contraria, o que é muito fácil de dizer – Eh, pá! Que grande parêntesis), seja invocado em vão por um fulano pretensioso que julga, que por também escrever num blog, pode tratar todos os restantes que aí escrevem por “colegas” ou pior ainda, por confrades. Quando blogosfera se tornar uma confraria, espero que Pacheco Pereira seja o Grão-Mestre e organize “Grãs Comezainas” à base de caça grossa.

Nesta condição de debutante ingénuo, que não sabe o que poderá advir dos seus folhetins, carente de orientação e protecção de um qualquer Guru ou “Líder”, é-se lançado assim para dentro dessa “casa dos horrores” que é o gosto dos outros. Tudo o que peço é uma luz que me guie ou duas tábuas com mandamentos para seguir, sei lá… Tudo menos este peso solitário da monstruosa responsabilidade que é postar para “o blog mais sério da história das mercearias”. Isto não como qualquer jornal ou revista onde se pode plagiar à vontade artigos das melhores revistas das diferentes especialidades a gosto do freguês.

Eu estar aqui, tipo Pedro Abrunhosa, martelando as teclas, não as do piano, mas sim do PC, munido com uma “Bic Laranja” atrás da orelha para dar aquele toque idiossincrático cada mais em desuso nas mercearias. Na próxima vou por atrás da orelha uma “Bic Cristal “ para ver se sai uma escrita normal.

Sem mais assunto de momento, subscreve-se ostensivamente,
Pedrão

terça-feira, fevereiro 21, 2006

Tranquilo

Um jardim num blog. Nunca antes visto, penso eu. Ou será um blog num jardim. Este jardim não poderá ter fronteiras, como poderá vir a ter fronteiras, já que o homem não conhece fronteiras mas ao mesmo tempo impõem fronteiras mentais a si próprio, as quais não consegue ultrapassar. Não me parece que os intervenientes neste jardim terão grande dificuldade a ultrapassar fronteiras devido a uma inusitada queda para o passo em frente sem medo de cair. Se cair haverá muleta que o ajudará a levantar e seguir caminho com tranquilidade.

Está tudo na mente.

Ontem foi mais uma noite de embrutecimento. Há um certo indivíduo que já não aparecia no jardim faz muito tempo que marcou presença entre embrutecidos por repus kcob e marisco, não frutos do mar, mas daquele que o Eusébio gosta. Depois de muita cerveja e conversa chegando á catarse do relembrar e de morrer de riso do relembrado. Memórias distantes que se encontram connosco. Chegada a altura de ir para casa essa pessoa lembra-se que é a altura certa de se fazer uma visita á Escócia. Sim essa terra do imaginário do jardim, terra alta com vista sobre as nossas cabeças e vidas. Lugar esse com um magnetismo e misticismo próprio de lugares onde a natureza consegue transmitir a tranquilidade. No meio de nada no meio de tudo.

Tranquilo. Tranquilidade de pertencer a uma comunidade onde te inseres com naturalidade. Tranquilo. Na tranquilidade, tranquilo.

Jesus Rodriguez, guarda-redes sul-americano de qualidade duvidosa.

domingo, fevereiro 19, 2006

Retratos do Costume

“… E chama-se Paz… a esse esforço de todos contra todos…” – Montesquieu

Eis um pouco de vida real…

A 31 de Outubro de 1941, vários jornais públicos franceses publicaram o seguinte aviso:

“ Comedores de gatos, ATENÇÃO!
Nestes tempos de restrição, algumas pessoas esfomeadas não hesitam em capturar gatos para fazer com eles um bom assado. Estas pessoas não sabem o perigo que as ameaça. Com efeito, os gatos, que têm como fim utilitário matarem e comer os ratos portadores dos bacilos mais perigosos, podendo ser, portanto, especialmente nocivos…”

Com avisos destes na vida real o que é preciso é bom senso! Pois é época em que os corvos se vendem a 10 francos a peça no mercado de Lyon, época em que o número de pombos na praça Pierre-Lafitte em Bordéus passa de 5000 a 89! É a época dos nabos amarelos, das galinhas instaladas no canto da varanda em lugar de gerânios…. tomates plantados nos jardins das Tulherias, em Paris. Época das cartas de racionamento de pão, das senhas verdadeiras ou falsas, das bichas, das cumplicidades, dos amigos aldeões, das crianças que têm fome. A época dos que sempre ficam com fome ao comer. A época dos que comem demasiado para não deixar que nada “se desperdice” e porque ignoram “o que vai acontecer amanhã”, também do mercado negro, dos enganos no peso, no nome, na qualidade… Do queijo com zero por cento de gordura, do tabaco sem tabaco, do açúcar trocado por um pneu de bicicleta. É a época em que as crianças aprendem a roubar para comer e em que os pais se gabam dos extraordinários esforços que fizeram para o pão nosso de cada dia.

Este é um pequeno flash da vida quotidiana na França ocupada pelos Alemães, um retrato da França em guerra… aquela outra guerra, na qual não se disparam canhões, mas é motivada pelo disparar dos mesmos, a da sobrevivência! Miserável é certo, contudo, sobrevivência! Será que nós hoje em dia também queremos ir comprar corvos a 10 “francos” ao mercado de Lyon!? Pensem bem nisso… é que com a gripe que anda por aí, nem pardais vão haver para comer. Pensem no momento crítico em que se encontra o mundo e façam as vossas escolhas. No que me diz respeito, escolham de maneira que não seja a última. Paz!

“ O excesso, ao amadurecer, produz a espiga do Erro. E no tempo da Ceifa apenas se recolhem lágrimas…” - Ésquilo

sábado, fevereiro 18, 2006

Estiquem os casacos. Aos vossos lugares!

Mandou a vontade colectiva que se colocasse por estas bandas uma janela para o jardim dos gajos, e que através desta se observe “Os Gajos do Jardim” – enquanto o tempo quiser e a querença o determinar, que isto de jardins a todas as horas pode dar origem a cavidades profundas, nomeadamente em terreno mental. E para essas não há grande remédio senão cavá-las mais fundo. Arrepiar caminho.

Serão colocados com frequência novos documentos com o olhar inócuo d’ “Os Gajos do Jardim”, tecendo pareceres sobre assuntos unanimemente considerados sérios. Documentos que traduzam as mais importantes ideias que circulam acolá, no balcão de mercearia, entre o livro dos calotes e a caixa registadora sem rolo porque nada há a registar, apesar do tanto que por ali se regista, à imagem do jardim, onde muito se assenta e nada se regista, apesar do tanto que haverá de registável. Façam orelha.

E porque de crateras cerebrais originadas pelo culto de pensar andam estes gajos munidinhos, e cada vez mais munidos a cada um dos doze pontos fortes do relógio, reconheceram que seria um descorçoamento brutal não proporcionar a todos os interessados pela coisa internética e nesta pelas coisas escritas, a fortuna de consultar tão raros documentos como os que aqui serão publicados, não tarda nada alvo de estudos intensos sobre a complexidade encefálica revelada pela trupe do jardim patenteada nos manuscritos rescritos para fins digitais com o auxílio de uma das mais poderosas criações do homem… desde a invenção da garrafa térmica no século XIX: o computador pessoal.

Esta janela que nos conduzirá ao jardim tem por bem o objectivo de acudir a todos, inclusive a nós que o frequentamos assiduamente, com aquilo que de mais intenso haverá a dizer acerca das diversas temáticas disponíveis no contexto sócio-cultural de hoje, entre outras temáticas que apesar de não estarem disponíveis serão abordadas do mesmo modo, porque o indisponível é-o por desígnio táctico de alguns, entre os quais não estamos obviamente implicados. Propõe-se então o alargamento das temáticas àquelas que ainda não pertencem ao domínio público. Cabe-nos partilhá-las convosco se delas tivermos posse. Cabe a todos os visitantes do jardim comentar e partilhar connosco as que tiver igualmente em sua posse. Ali do vosso lado direito poderão recorrer a alguns caminhos, fora do jardim, onde irão encontrar muito do que presidiu à edificação daqueles que agora se reconhecem a pretensão de dizer coisas! Digam-se coisas portanto. E mais não digo.

Babince, vulgo Venâncio, e cujo nome verdadeiro é cada vez mais remoto.

Depois da hora marcada, como é óbvio

Como mercearia que é mercearia abre sempre depois da hora marcada cá estamos nós, mais uma vez atrasados. Contudo o que seria das maiores e afamadas mercearias sem o seu enorme grito de permanência de outra forma de estar na vida? - como a D. Aninhas, mesmo aqui no cimo da minha rua, que se pode orgulhar de em mais de 30 anos de funcionamento nunca ter tido um horário a respeitar ou sequer afixado na sua porta (o que nos dias de hoje, em que as horas são mais preciosas que o dinheiro, é algo digno de nota).
Apesar das aparências ilusórias na mercearia nada é fácil: é preciso procurar e agarrar com força o que queremos porque pode surgir uma avozinha possessa com uma súbita necessidade de alegria que se cola a nós tentando compreender a razão do nosso sorriso e porque razão levamos tanto sabonete... Percorro o corredor atravancado de produtos, alguns deles em óbvio risco de queda porque a gravidade da situação não perdoa ninguém. A dificuldade está na escolha.

Após ter o que quero, passo pela fruta, evito habilmente os produtos de limpeza e deixo tudo em cima da caixa. Quando dou por mim estou há horas a falar com os donos… de tudo – porque mercearia que se preze tem sempre tudo. Especialmente a história, sempre breve, de quem lá entra…

Foi há seis anos com uma insuspeita reunião num jardim entre pessoas, bongos, guitarras e garrafas de Super-Bock vazias (se bem me recordo também haveria um Kazoo e Venâncio a matar todos de riso pela primeiríssima vez) que começou “a conversa”… ainda a medo começaram-se a dizer coisas, a passar o tempo… a reconstruir todo um novo vocabulário para o português… Cantar também um pouco para afastar os males, exorcizar demónios, afastar alguns morcegos que se aproximam dos corpos queimados pelo sol.
Horas passadas na relva: sol, marés de informações, troca de livros, troca de músicas, partidas de futebol para terror das hierarquias, Dalão e Sanssila... e sempre o ritmo constante de algumas vozes que não tinham esquecido como se fala e para quê se deve falar.

“A conversa” continua, agora aqui, a este balcão cibernético onde haverá espaço para todas as palavras possíveis, porque é impossível reunir fisícamente neste pequeno balcão todos os Gajos do Jardim (desde Verbatov a uma certa senhora que desmaiou no bar após ter conhecido o Homem do Cajado), a Ciganada Grega… mas podem sempre ficar as visões, as palavras, os filmes e todas as complexas realizações deste bando embrutex, “protótipos de deus” nas palavras de um amigo já desaparecido.

Uma tentativa de recriar um espaço que se fazia em contacto com os outros e com o mundo em que se vive, não na exploração teórica de folhas secas e estéreis. Uma Academia para a qual não há palavras… Sem nostalgia, apenas uma enorme alegria pelo facto de os astros terem girado nesta direcção e de haver pessoas a quem posso chamar amigos enquanto me debruço sobre o balcão e explico o porquê de estar aqui a dizer coisas no meu jeito particular de dizer…

Agora e após estas pequenas palavras introdutórias podemos abrir as portas, esperar clientes, manter o nosso pequeno espaço escondido atrás das grandes torres onde o tempo se escoa…

…sigo rulando!...

Daqui José de Arimateia, segurando e agitando o cálice!...