Retratos do Costume
“… E chama-se Paz… a esse esforço de todos contra todos…” – Montesquieu
Eis um pouco de vida real…
A 31 de Outubro de 1941, vários jornais públicos franceses publicaram o seguinte aviso:
“ Comedores de gatos, ATENÇÃO!
Nestes tempos de restrição, algumas pessoas esfomeadas não hesitam em capturar gatos para fazer com eles um bom assado. Estas pessoas não sabem o perigo que as ameaça. Com efeito, os gatos, que têm como fim utilitário matarem e comer os ratos portadores dos bacilos mais perigosos, podendo ser, portanto, especialmente nocivos…”
Com avisos destes na vida real o que é preciso é bom senso! Pois é época em que os corvos se vendem a 10 francos a peça no mercado de Lyon, época em que o número de pombos na praça Pierre-Lafitte em Bordéus passa de 5000 a 89! É a época dos nabos amarelos, das galinhas instaladas no canto da varanda em lugar de gerânios…. tomates plantados nos jardins das Tulherias, em Paris. Época das cartas de racionamento de pão, das senhas verdadeiras ou falsas, das bichas, das cumplicidades, dos amigos aldeões, das crianças que têm fome. A época dos que sempre ficam com fome ao comer. A época dos que comem demasiado para não deixar que nada “se desperdice” e porque ignoram “o que vai acontecer amanhã”, também do mercado negro, dos enganos no peso, no nome, na qualidade… Do queijo com zero por cento de gordura, do tabaco sem tabaco, do açúcar trocado por um pneu de bicicleta. É a época em que as crianças aprendem a roubar para comer e em que os pais se gabam dos extraordinários esforços que fizeram para o pão nosso de cada dia.
Este é um pequeno flash da vida quotidiana na França ocupada pelos Alemães, um retrato da França em guerra… aquela outra guerra, na qual não se disparam canhões, mas é motivada pelo disparar dos mesmos, a da sobrevivência! Miserável é certo, contudo, sobrevivência! Será que nós hoje em dia também queremos ir comprar corvos a 10 “francos” ao mercado de Lyon!? Pensem bem nisso… é que com a gripe que anda por aí, nem pardais vão haver para comer. Pensem no momento crítico em que se encontra o mundo e façam as vossas escolhas. No que me diz respeito, escolham de maneira que não seja a última. Paz!
“ O excesso, ao amadurecer, produz a espiga do Erro. E no tempo da Ceifa apenas se recolhem lágrimas…” - Ésquilo
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