domingo, março 05, 2006

Os efeitos e os perigos ...

Bem, mais uma vez venho atrasado para o trabalho. Quem se deslocou no horário normal de funcionamento desta mercearia encontrou a porta fechada, nenhum sinal de vida vindo do interior. Mas ninguém me disse nada e de forma alguma os negócios têm andado fracos. Contudo para a próxima deixarei um papel na porta a avisar.

Agora quanto aos negócios: apesar de estar aqui a escrever não me encontro em casa, nem nada que se pareça. Aproveito os dias para partilhar algo de mim, para crescer um pouco à luz de outros olhos. Só graças à caridade é que consigo estar aqui a escrever para quem quer que queira ler. Tenho pensado muito no poder da palavra, aquilo que muitos outros já disseram e falaram antes de mim, quando elas ainda valiam de alguma COISA, e que nada ficava por comentar, quanto mais não seja era-lhes atribuído aquele tão necessário toque de loucura que as fazia serem lembradas.
Alguns exemplos disto são todos os criadores (espero não ser mal entendido) que utilizavam a democracia da palavra para poderem expressar-se, para fazer a humanidade progredir. Sei que todos vós são pessoas instruídas, cultas, que sabem tudo aquilo que a televisão quer que vocês saibam, mas permitam que eu continue a dizer coisas…

Havia quem previsse um eterno desregramento dos sentidos de forma a atingir a iluminação poética; outros acreditavam em conjunções cósmicas que iriam levar tudo a bom termo; outros ainda não acreditavam em nada, excepto na desilusão – os passos que precedem a queda. Mas evoluíam…
Deixo a vosso cargo descobrirem de quem falo porque hoje em dia é bonito ser críptico, dar pistas que arvorem o conhecimento que se possui… em suma, dar ares…
Agora fui excessivamente irónico… corro o risco de me abandonarem aqui, sozinho feito maluco a gritar disparates para incómodo de todos.

Hoje em dia para se ser escutado e “acreditado” é necessário ter um papel que o prove. Algo que nos separe dos restos da camada informe que nos rodeia. Com isso, podemos não o ser, não ver, não saber, mas somos – existimos mais completos do que nunca naquelas poucas linhas azuis ou negras, com carimbos brancos e atestados, averbamentos… com dinheiro para iluminar o caminho na perseguição do que é real para nós. Talvez já tenha dito demais…
Aproxima-se o final, o maluco emudece progressivamente e fica a um canto gozando o breve silêncio que fica quando terminam os ecos das suas palavras. Há um livro a um canto, algo que nunca ninguém recomendou, algo que um amigo encontrou num alfarrabista – e cada vez me convenço mais que os alfarrabistas, tal como as mercearias, são o local onde se encontra algo sincero. Apesar de nunca ter gostado de mostrar caminhos como os profetas faziam (para mim os “caminhos” são sagrados) há aqui um parágrafo que gostava de partilhar.

“Desde os tempos do Cro-Magnon que a nossa mente é controlada, quando o homem ensinava ao filho como aguçar a ponta de uma lança. Desde então, a mente é controlada pelos pais, professores, sacerdotes, políticos e todos os outros «comunicadores» bem sucedidos. O que é preciso evitar é que a mente seja controlada pelo ignorante, pelo doente, e pelo sequioso do poder.”

(The Beyond Within, The LSD Story, Sidney Cohen)

Agora concluam…

José de Arimateia, regressando a casa sozinho

4 Comentários:

Blogger Ken Ewing Disse as coisas que se seguem:

Realmente a influência de quem nos educa e instruí é tremenda mas mais cedo ou mais tarde todas as mentes se apercebem do que realmente querem da vida e apesar de bela, a liberdade é assustadora pois todas as escolhas que em nome dela fazemos, boas ou más, trarão as suas consequências. Disse a Liberdade acerca do que diziam sobre ela: " Dizem que semeio o caos e a destruição como o vento semeia as papoilas... " Pois eu acho que é preferível caos e destruição a opressão e reverência submissa a quem julga tudo saber.

Abraço!

Xiquince

6/3/06 02:22

 
Blogger Tiago Disse as coisas que se seguem:

tens toda a razão, mas eu só acrescentaria, evitar que a mente seja controlada por quem quer que seja, não só os sequiosos de poder, mas também aqueles que intitulam de «Bons» e que nos fazem crer que se seguirmos as suas receitas alcançaremos algo de verdadeiro, eu acho que acima de tudo devemos primeiro tentar esvaziar a nossa mente dessas «receitas» e só depois descobrimos nós próprios o caminho a seguir pois toda a transformação deve ser individual se não estamos só a seguir por onde nos mandaram.

6/3/06 16:01

 
Blogger Tiago Disse as coisas que se seguem:

As most of us seek power in one form or another, the hierarchical principle is established, the novice and the initiate, the pupil and the Master, and even among the Masters there are degrees of spiritual growth. Most of us love to exploit and be exploited, and this system offers the means, whether hidden or open. To exploit is to be exploited. The desire to use others for your psychological necessities makes for dependence, and when you depend you must hold, possess; and what you possess possesses you. Without dependence, subtle or gross, without possessing things, people, and ideas, you are empty, a thing of no importance. You want to be something, and to avoid the gnawing fear of being nothing you belong to this or that organization, to this or that ideology, to this church or that temple; so you are exploited, and you in your turn exploit."
«J. Krishnamurti» só para finalizar.

7/3/06 12:11

 
Blogger Mazi Disse as coisas que se seguem:

Quem se apercebe da fragilidade e permeabilidade da mente humana, consegue Imperar num golpe de asa... É tão fácil, que até mete nojo!


hOMENS...

10/3/06 15:26

 

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