Vinho de mesa Viriato
“O nosso movimento skinhead tem um passado de violência atrás que é inegável, mas de qualquer das formas não se compara a nenhum gang de negros ou de ciganos.” (...) “Isto não é uma emigração, é quase uma colonização. Existem zonas de Lisboa onde os brancos já são uma minoria.” – foram algumas das declarações de Mário Machado que pudemos ouvir na reportagem “Português Suave” da TVI. Não só aprendemos que a violência também tem cor (e até a violência deles é maior do que a nossa) mas que Portugal está a ser invadido. Quase imagino velhinhos em casa, brancos de terror, a tremer de medo ou frio enquanto escondem os 100 euros da pensão com receio dos selvagens! Depois da pinta algo boçal e musculada, qualquer um mudaria de canal. Quem não mudou foi brindado com uma pérola de demagogia. O presidente do PNR, José Pinto-Coelho, diz “Nós não somos xenófobos! De maneira nenhuma! Eu tenho o maior respeito pelas outras nações. Existem diversas culturas, diversas raças, diversas civilizações… ainda bem que existem, mas cada um no seu lugar!”. Foi através deste peralta afectado com ilusões de grandeza lusitana que aprendi que o nacionalismo é como o natal: uma grande família em que todos gostam muito dos outros – desde que todos estejam em suas casas.
Mas isto já todos nós sabemos. O que não sabíamos ou procurávamos negar é que, lá bem no fundo, há um facho a brilhar bem no fundo de todos os portugueses. Lá bem no fundo todos começamos a temer pela nossa identidade… pelo nosso lugar de emprego, essa promessa… lá bem no fundo ainda acreditamos, debaixo de séculos de pessimismo, que grandes feitos podem ainda surgir da pátria lusa – desde que alimentados a pão de bolota e vinho barato.
São estes os ecos nas ruas. Alimentados a álcool, como todos os grandes feitos lusitanos, as pessoas conseguem finalmente expulsar os seus demónios culpando os estrangeiros; suportam a imensa estagnação das suas vidas criticando o empreendedorismo e elevando-se a si mesmos dizendo “mas eu sou português” – como se isso fosse um valor em si. Ainda hoje tive um belíssimo exemplar português (1,75 metros, cerca de 65 quilos de peso, cabelo à futebolista dos anos ’80, face magra com bigode, roupa comprada em saldo algures nos mesmos anos ’80 e demasiado larga para ele… era bege… os sapatos largos e gastos com uma fivela dourada), completamente bêbedo a dizer-me “rêêêêêê… ajuda-me… rêêêêêêêê… sou português… lusitano… rêêê… rumpfus…”, enquanto fazia, ou tentava, organizar algo que seria um crucifixo ou a cruz de Cristo com os braços e as mãos.
Segundo esse quase “preso político” que faz parte de uma organização com uma violência mais pequena do que a deles, ser português é algo que se herda… é algo que nos corre no sangue. Eu prefiro fugir a essa herança e acreditar que é possível deixar de ser português… que é possível fugir ao sangue