Não tinha a mínima intenção em abster-me de abordar a questão do aborto aqui pelo jardim. Um recente comentário a um texto publicado por estas bandas - Ver Aqui -, proferido por alguém que se intitula “o engenheiro”, desencadeou este post, e fez-me sentir bem de perto a agressividade que impera quando o povo é chamado a debater assuntos sérios. Como faço parte do povo, tomo a liberdade de colocar alguma ordem na casa.
Isto que estamos, sociedade portuguesa, a discutir, não se trata da previsão do resultado de um jogo de futebol, nem tão-pouco a torcer para que ganhe a nossa equipa. Nesses domínios até sou capaz de, nos limites do meu bom-senso, aceitar que as pessoas se insultem. Faz parte. Acontece entre amigos não raras vezes. Agora, quando se trata da Descriminalização do Aborto. Repito: DESCRIMINALIZAÇÃO DO ABORTO, não podemos admitir que cada opinião ou parecer esteja livre de argumentação válida. Caso contrário, são vozes desesperadas que necessitam de alimentar o espírito destas coisas que se traduzem entre muito pouco e coisíssima nenhuma.
Dilatei “Descriminalização do Aborto” porque é isso que se pretende discutir. Ora, que aquelas mulheres que abortarem, bem como os seus namorados, pais, avós e amigos sabedores de tal facto, não estejam por isso exposto ao risco de ir “parar à cadeia”. Lamento que um certo Portugal levante a voz, para usar de tudo um pouco, no sentido de culpabilizar aqueles que defendem a prática do aborto em condições dignas. Passo a perguntar: alguma vez, sendo proibida a prática do aborto, alguém deixou de o fazer se assim o pretendesse? Que sociedade defunta é esta que vive na hipocrisia de arrumar debaixo do tapete o lixo em que caminha?
Por um lado, surgem médicos/as, enfermeiros/as, parteiros/as apavorados com o facto de poder estar eminente o fim da galinha dos ovos de ouro. Surgem os pais e mães de família que jamais saberão porque aborta uma mulher, em virtude de estarem bem protegidos sob a alçada das contas bancárias e eventualmente de um apanhado de crimes económicos dos quais se orgulham. Surge a igreja a argumentar que temos hoje disponíveis meios de combater a gravidez indesejada usando o preservativo… mas é contra o preservativo. … A lista continuaria até se perder. Sublinho apenas aqueles que defendem o não por simples obsessão de imposição da sua vontade.
Mais do que qualquer outra questão, o referendo que se aproxima, procura discutir somente a liberdade de escolha. O sim e o não. Não precisaremos de grandes reflexões para concordar que o aborto continuará a ser feito. Que seja feito em boas condições, sob o controlo de quem estuda para lidar com estes casos, e que a necessidade do recurso ao aborto diminua como em tantos outros países onde se pratica assumidamente aos olhos da sociedade.
Aqueles que se sentem incapazes, pelos seus valores e crenças, de praticar o aborto, não o façam. Poderão continuar a não o fazer. No entanto, não procurem limitar aqueles que pelas suas razões o pretendem fazer dignamente. Quem é “não” poderá sempre ser “não”. Já o oposto não é possível por agora. Escolher. Esta é a liberdade de opção que se procura.
Com vontade de escolher,
Babince
1 Comentários:
Era este o circo de que falava...a liberdade de escolha democrática que citava...
Ontem reparei que Salazar está entre os 10 Maiores Portugueses de Sempre....e a alguns dias da votação parece-me mais que óbvio quem irá ser considerado o maior português de sempre...
Parece-me que muita coisa não ficou bem feita...
Temo que tenhámos de voltar à rua...
Acredito que terenos de limpar uns quantos...
22/1/07 21:44
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