...Circo...

Acabo de acordar...abri o laptop e deparei-me com uma dissertação brilhante de um amigo. Ainda a reflectir, não podia perder a oportunidade de dissertar também sobre algo que me apraz de sobremaneira...o Circo!

Já não assisto a um espectáculo de circo ao vivo, em sede própria, com aqueles aromas caracteristicos misturados com o desconforto clássico, há alguns anos.

Todos os natais aquele bichinho do qual se fala puxa-me para ir ao circo...mas eu mesmo assim não vou. Todos os natais passo por inúmeras tendas de circo, com as cores apelativas, os anúncios de mil e uma proezas....mas eu não entro. Todos os natais alguém tem um convite para o circo, e faz questão de oferecer-mo....eu continuo a não ir.

A última vez que fui ao circo foi ao Coliseu, casa que privilegiei e que os que me acompanhavam priveligiavam no que trata a espectáculos circences. Mas também fui a outros, até já fui ao circo em Itália. Lembro-me com carinho de uma vez que assisti a uma mega-produção de circo internacional patrocinada pela Buondi que tinha Mr.T e avionetas como cabeças de cartaz.

Quem não se lembra da Dama-dos-Cabelos-de-Ferro a tomar o seu chá suspensa pelos fartos cabelos negros...das meninas da corda vertical e do senhor que fazia a corda girar...dos trapezistas...dos palhaços sofriveis da maior parte dos circos...do apresentador a gritar constantemente "Inolvidável"...dos leões....dos tigres....da senhora das pipocas, que também entrava no número dos palhaços e fazia uma perninha na corda vertical....

...Parece-me que o acto de ter deixado de ir ao circo embora se enquadre no rol de coisas que deixei de fazer, deve-se a uma razão diferente...

...Parece-me que o acto de ter deixado de ir ao circo deve-se ao facto de frequentemente ser obrigado a viver nele...

Não no sentido de ser um saltimbanco, porque isso decerto nunca fui, mas na razão de ser parte de um espectáculo itinerante que se chama sociedade portuguesa.

A época natalicia ainda não tinha terminado...as diversas tendas de circo ainda estavam por aí montadas....ainda era possivel encontrar as meninas da corda vertical num café perto de mim...e já a megaprodução circo-social tinha iniciado...

O tema do espectáculo deste ano é o aborto...e a sua elaboração conceptual, devem concordar, está muito bem concebida...os factos garridos de lantejoula brilhante, a tenda gigante, a excelente música e fundamentalmente os artistas...

Este ano o rol de artistas está deveras completo...

Basicamente o espectáculo desenvolve-se através da técnica do clássico Palhaço Rico-Palhaço Pobre e alastra-se a toda a companhia de circo, fraccionando-a e fazendo com que até os leões se apresentem em duas equipas concorrentes...

Os gags são do melhor a que já assisti em toda a vida.

Os palhaços ricos têm piadas brutais como por exemplo:

-"O aborto vai ser pago com o dinheiro dos impostos que custam tanto a pagar aos portugueses"

-"Por cada 2,3 abortos o governo gasta o dinheiro de uma cirurgia (não especificam de que tipo)"

-"O combate ao aborto e não apenas ao aborto clandestino deve ser uma opção política estratégica por parte do Estado"

-"Toda a vida deve ser protegigida como a do Menino Jesus"

-"Quando o aborto a pedido é autorizado, entramos num caminho quer de banalização quer do facilistismo"

-"42% das mulheres que abortam têm uma depressão grave nos quatro anos seguintes"

Os palhaços pobres também não ficam atrás:

-"Uma criminalização que ofende os mais elementares valores humanos e que representa uma intolerável agressão e ameaça às mulheres portuguesas"

-"Tive a oportunidade de ir a uma clínica. Nem toda a gente tem essa sorte". "Conheço uma pessoa que ficou impossibilitada de engravidar"

-" As mulheres perseguidas, vexadas, encarceradas"

-"É necessário acabar com a devassa"

-"Flagelo condena todos os anos milhares de mulheres ¿ sobretudo jovens e adolescentes - a um caminho de clandestinidade, a que se associam perigos graves para a sua vida, saúde física e psíquica».

Os artistas também são deveras conhecidos...os tradicionais escroques de direita e suas damas...e a malta do ideais dessa esquerda proletária...

Como sempre quer o discurso, quer o elenco......são profundamente redutores....

A minha palavra é uma só:

DEMOCRACIA