domingo, janeiro 07, 2007

A Festa da Taça

Nunca fui grande entusiasta da Taça de Portugal mas, confesso, sinto-me atraído por qualquer jogo de futebol, seja ele oficial ou amigável. E sempre que a oportunidade se proporciona faço questão de marcar presença num qualquer campo de futebol perto de mim.

Já vi muitos jogos e apenas alguns, poucos, me entediaram. Lembro-me de repente de um Boavista-P.Ferreira, num fim de tarde de domingo cinzento, no qual a única oportunidade flagrante de golo foi um penalti, discutível, que o Silva se encarregou de falhar.

Já vi muitos jogos e recordo alguns com particular carinho. Desde esses daquele Porto inigualável que dominou Europa em 2004 e 2005, até outros que não me diziam muito respeito mas que como sequioso consumidor das artes da bola tenho que referir, como aquele Boavista-Hertha de Berlim, esse badalado Benfica-Gondomar ou até um Raja Casablanca- Al Araby.

Houve, com certeza, muitos mais que me marcaram e muitos irão haver que decerto me marcarão.
Hoje aconteceu mais um desses, e como nem só recordo aqueles que me provocaram especial alegria clubística, não posso deixar passar, sem referenciar, aquilo a que hoje assisti.
A vontade de ir ao estádio não era grande, mas como é sempre uma boa aposta não vacilei, e mais uma vez, como de tantas de outras, fui ver a Festa da Taça - sempre que fui ver a taça nunca fui com grande emoção ou especial interesse - fui porque gosto de ver equipas que regularmente não vejo apresentarem o seu futebol, explanarem o seu verbo de campo, exibirem as suas travessuras, ou até mesmo, aplicarem a sua ronha nos quatro cantos do relvado.
E gosto especialmente de as ver fazerem isso contra o Porto, bicho-papão da competição nacional, equipa que é considerada, unanimemente, uma das mais difíceis do mundo de bater quando joga em casa.
Se ontem à noite me perguntassem se tinha memória de derrotas do Porto em casa nos últimos anos eu seguramente responderia sem soçobrar: Torreense, Beira-Mar, Braga, Nacional, Artmedia e Benfica.
A mediania qualitativa do cartel referido pode ser vista de dois prismas: 1. O Porto só perdeu em casa com equipas de segunda linha 2. As derrotas caseiras do Porto foram sempre inesperadas e insólitas.
Estas derrotas deveram-se, algumas à sorte, algumas à ineficácia do Porto, algumas à incompetência de alguns.
Mas...Hoje foi diferente. Hoje foi daqueles jogos que ficam para contar aos filhos, como já a mim me contaram - " uma vez vi a CUF a ganhar 2-0 nas Antas, jogava o Adolfo na frente, jogava que se fartava, o Porto não teve hipótese" !
Hoje o Atlético deu uma lição de futebol no Dragão, e não há que ter meias palavras, nem tentar esconder o sol com a peneira, nem tentar defender a nossa dama, porque de facto foi isso que aconteceu.
Fala-se em escândalo, em David bateu Golias, em displicência portista, em confiança exagerada, mas aquilo a que eu assisti foi FUTEBOL. Não conhecia esta equipa, do cardápio saltavam alguns nomes conhecidos de escalões secundários, mas nada que assustasse, ou nada em que eu apostasse caso jogassem contra um qualquer rival.
O Atlético pressionou sobre o meio campo 90 min., atacou sempre, sempre com pés e cabeça, e defendeu como os grandes da Europa.
O Porto jogou normal (já vi muito piores exibições...), o mérito foi todo do Atlético que fez aquilo que ainda esta época ninguém no mundo tinha feita, e que nas épocas anteriores foram quase residuais os que o conseguiram.
Os meus parabéns a todos aqueles que, apenas por hoje, foram fervorosos adeptos do Atlético, porque de facto a vossa equipa fez um jogo do qual me recordarei para sempre, guardarei com carinho nas minhas memórias futebolísticas e com certeza contarei ao meu filho um dia mais tarde.
Foi um dia infeliz na história do Porto que felizmente se junta a poucos outros dias menos felizes. E felizmente também que nesse "ranking de dias infelizes" a nossa classificação não é muito famosa, diria mesmo que estamos muito mal classificados, quer a nível nacional quer mesmo a nível internacional. E eu fico e sou feliz por isso.
Nunca fui de festejar taças, nem Supertaças portuguesas, mas gosto das dobradinhas...e este ano já não há hipótese de dobradinha...e isso deixa-me um pouco triste.
Mas no fundo estou contente, estou contente porque hoje constatei mais uma vez que o futebol é, e será sempre, um jogo de incógnitas, e que por muito que tentem dizer que hoje é o dinheiro quem manda no futebol, eu não me acredito. Não acredito hoje, nem acreditava quando sonhámos o Porto Campeão Europeu...quando me chamavam maluco...e me atiravam à cara com orçamentos do Real Madrid, Milan, Inter ou M.United...enfim...!
O futebol é sempre 0-0, onze para cada lado, uma bola, duas balizas, um relvado, 90 min...e eu adoro-o por ser assim...

Citando Zé Nando, esse crack do S. Pedro da Cova (disponível no Youtube):

-" Somos onze contra onze, homens contra homens, no fundo somos todos seres humanos..."

Esperando pelos Blues...

1 Comentários:

Blogger Unknown Disse as coisas que se seguem:

a pergunta que se impõe é se o atlético teria ganho com bolas quadradas....

12/1/07 02:20

 

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