quarta-feira, junho 28, 2006

Nenhum Deles Sabia, Mas Eram Todos Robots.

Todos fazemos parte da grotesca engrenagem em que se transformou a civilização humana. Uma máquina/teia que nos enreda e que assenta no consumo e produção, a liberdade tão proclamada é apenas virtual, o dia a dia é feito de rotinas e manipulações entorpecedoras dos arautos que agora aparecem nas televisões em vez de aparecerem nas praças ao som de cornetas, já não há lugar á novidade, á parte as inovações tecnológicas, vive-se a era da estagnação tanto a nível cultural, como em relação ás artes. Já não se inventam novas formas de viver, já não se inventam novos géneros musicais, já não se inventam novos estilos de pintura, tudo é repescado do passado.
Esta máquina transforma-nos em robots pois não só nos controla através do trabalho como também através do lazer, fazendo-nos cair numa letargia da qual nem sequer nos apercebemos encarcerados em frente a monitores, "Sitiados", mas dizendo alegremente e de forma imbecil que vivemos na " Aldeia Global".
Não consigo explicar isto muito bem, mas este senhor consegue:

Adolfo Luxúria Canibal

As Tetas Da Alienação

Testemunha ocular da miséria mental que é mistificar a tristeza banal
de viver a juntar tanta coisa vital para a vida vulgar parecer divinal
e com isso ocultar a pobreza real de um gesticular reduzido a sinal.
Não consigo calar a origem deste mal que nos anda a atacar todos por igual.
Tudo assenta no consumo e produção, são as tetas desta nossa alienação,
trabalhar ou morrer, é-nos dado a escolher, o trabalho é direito transmutado em dever,
não se pode morrer, já lá diz o preceito, e se formos a ver não há nada a escolher.
Para sobreviver o trabalho é foral, não morrer consumindo não se chama viver.
O consumo é o aval para se ir produzindo e com o seu acrescer fecha o ciclo infernal.
Tudo assenta no consumo e produção, são as tetas desta nossa alienação.


Sitiados

Em volta, o triturar exausto de máquinas infernais,
Tráfego, tráfego e punhais-
Fábricas, prédios em construção,
Néons, buzinas - tudo em combustão
E a terna poesia de uma sucata sombria:
Dejectos e detritos
Em abaraços de ferrugem,
Gritos!
Gritos!
Gritos!
Sitiados!
Sitiados!
Sitiados!


Aldeia global

Anda eufórica toda a gente com a era da informação, fechada em casa ligada á rede ou grudada á televisão na vertigem das notícias em constante circulação, sempre mais e mais depressa. "É a Aldeia Global", explicam num júbilo imbecil, prontos a desfilar o rosário de maravilhas dos novos tempos, sem discernirem que aldeia sempre foi sinónimo de isolamento e conformismo, de mesquinhez, aborrecimento e mexerico e que, de qualquer modo, o que verdadeiramente interessa se mantém secreto. Do além-mar ou da máfia, julgam que tudo se pode saber, economia ou política? O difícil é o escolher (por parte dos media): crimes de sangue, relatos de amor são mais fáceis de perceber, " É a Aldeia Global " - explicam num júbilo imbecil, prontos a desfilar o rosário de últimos acontecimentos sem discernirem que, contrariamente ao mundo observado directamente, em que a relação com o real é absoluta, estão a consumir meros resumos simplificados da realidade, manipulados num fluxo de imagens de que são simples espectadores e cuja escolha, cadência e direcção não controlam nem têm possibilidade de verificar a veracidade eb em que, finalmente, no frenesim meticulosamente planeado de dados surpreendentes, o que verdadeiramente importa se mantém secreto, o que importa é saber onde raio se oculta o poder.
Saudações e Abraço!

3 Comentários:

Blogger Daniel Ferreira Disse as coisas que se seguem:

A preocupação que demonstras ao referir que a cultura e as artes devem romper com os padrões do passado parece-me bastante interessante, no entanto a meu ver o grande problema é outro. A humanidade apesar de ter o passado como auxílio de memória não consegue discernir do meio do amontoado cronológico o que foi certo e o que foi errado e qual o devido rumo a dar às denominadas sociedades democráticas ou ocidentais... Tu sugeres (pelo que me apercebo) que é necessário criar algo novo que aniquile com tudo o que (supostamente) nos entorpece, não te apercebes entretanto que o saudosismo artístico e cultural contemporâneo reflecte isso e tem uma razão de ser que remete para uma inconsciência generalizada que é uma bela e pequena verdade omnipresente: este vício actual, o gosto pelo passado, deve-se à pura necessidade de reencontrar a realidade num estado menos decadente. Só quando nos agarrarmos a essa "pequena verdade" e a tentarmos compreender conseguiremos dar a devida consistência à realidade abstracta que ansiamos. Quero eu que percebas com isto que o que precisamos não é inovar em termos artísticos, mas sim compreender e dar uma forma mais linear e concreta ao presente artístico e cultural, ao que nos foi dado pelo desenrolar dos factos históricos.

Se a nostalgia que é ilusório presente e nunca foi grande futuro fosse devidamente manuseada, com mais seriedade e atenção, talvez se pudesse transformar a actualidade aparentemente intemporal num futuro menos confuso e alienante.

Esta necessidade pelo passado é uma equacional ambiguidade que necessita de um equilíbrio próprio: por um lado ressalta um sentido constante e destruidor que deve à partida ser posto de parte; mas por outro lado se desapertarmos os laços que nos unem perdemos a noção da verdadeira realidade e voltamos a cair nos irreflectidos erros humanos de um passado não muito distante.

29/6/06 04:18

 
Blogger Tiago Disse as coisas que se seguem:

grande post meu, olha dá uma vista de olhos nisto http://www.youtube.com/watch?v=qjYOXcWz_Uk

30/6/06 16:53

 
Blogger Pedrão Disse as coisas que se seguem:

É sempre bom lembrar estas problemáticas estruturantes fundamentais, delicadas e sobre as quais pouca gente se debruça...

Vivemos num tempo de indefinição, onde a informação é demasiada para as nossas capaçidades cognitivas...
Quanto à manipulação, a receita é a mesma de sempre, usando cosméticas e urdiduras cada vez mais apuradas...

Verdade e mentira diluem-se, resta saber quem as mexem com a colher de pau no caldeirão da história ou das "estórias"...

Um abraço

5/7/06 15:28

 

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