Comecei a escrever. Agora é que é. Tenho de dizer coisas para que aqui, no Jardim Virtual, seja de facto um vegetal (eu).
Salvo algumas excepções, em que me sento para partilhar “coisas” com todos os que chegam ao jardim e estendem a manta e sei de antemão o que dizer, a maioria das vezes é um turbilhão de perguntas de mim para comigo mesmo na tentativa de encontrar o tema que me apetece abordar. Não por falta do que dizer, mas porque tudo me parece essencial quando boa parte do que em mim fervilha diz respeito às pessoas, em particular às pessoas num sentido global e indiscriminado.
Isto faz-me pensar particularmente na ausência de espírito crítico de validade-válida que prolifera na nossa sociedade. «Ninguém quer saber de nada!» As pessoas não têm agenda. Não pensam, falam, discutem, criticam ou exploram, nada que não lhes tenha sido colocado no prato para comer sob a forma deglutida. Quem identifica problemas no seio da sua própria comunidade? Quem coloca soluções mediante algo que lhe diz directamente respeito, e se encontra em debilidade?
Hoje, mais do que nunca, depois daquele eterno clássico em que apenas aquele que é reconhecido pela Televisão (sendo que o ‘T’ é racional) é valorizado/reconhecido pela sociedade, temos agora uma nova prática em que somente o problema que chega aos média é, para todos, um problema que carece de solução. Este é um comportamento recorrente a várias escalas. Desde as questões relacionadas com o Estado e a grande finança, até ao caso do vizinho do lado que espanca a mulher e os filhos. Tudo isto só é problema a partir do instante em que, entre uma garfada de arroz e um trago de vinho de lavrador, esse dito problema é colocado à apreciação do Zé Povinho num qualquer apontamento de telejornal.
Até ao dia em que a TVI reportou o espancamento da nossa vizinha do lado, depois de muitos “já a seguires”, num formato voz distorcida em que a vítima diz tudo o que jamais dirá à assistente social… todos aqueles “Ais!”, “Uis!”, por entre insultos e bugiganga que parte, durante noites a fio, não teve para nós qualquer importância. Só é verdade hoje, por que só hoje é notícia de televisão.
Certamente, se (e eu desatino com ‘ses’) em situações como a exemplificada ou outras, a denúncia for concretizada atempadamente perante quem deve efectivamente ocupar-se deste assuntos, os problemas não se prolonguem no tempo, nem sirvam de entretenimento para as mentes que estão a ser cultivadas pela televisão, em que realidade e ficção estão separadas por uma linha ténue e raramente perceptível pela maioria letárgica. E com isto justifico o presente.
Gostaria de deixar à consideração de todos o facto de, hoje, a televisão não reportar acontecimentos, ao contrário, apropriou-se do poder de os fazer acontecer.
Apertando o “Stand-by”,
Babince
3 Comentários:
É bem verdade. O efeito manipulador da televisão é bem verdadeiro, mas só para quem passa o dia colado nela a ver Fátima Lopes, Manuel Luís Goucha e novelas mexicanas ou novelas brazileiras dos anos 70/80, o que diga-se de passagem, em Portugal devem ser para aí uns 80% das mulheres entre os 40 e os 60 anos.
Um Abraço!
5/6/06 03:30
nada existe se não for visto: e podem sempre fabricar um directo, uma emissão de estúdio, um "acontecimento" em que se dá o tempo de antena a tudo o que é certo para manter o "status quo".
nada disto alguma vez aconteceu!
abraço
5/6/06 15:42
A caixa sedou o mundo, ele acorda em convulsões durante breves instantes, mas elaembala o para uma morbida letargia... Quando se acorda sobressaltado, o melhor é mesmo adormecer de novo, e quanto mais rápido melhor.
A tv lembra-nos de muitas coisas, mas faz-nos esquecer de muitas mais.
Abraço
6/6/06 03:34
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