sábado, abril 05, 2008

Um ideal surreal

Boas...

Apesar do lapso temporal já ser grande temos, para hoje, uma pequena dose do mundo real...

















Publicada em 17/03/2008 às 22h31m
Isonilda Souza - Especial para o Globo


GOIÂNIA - A Polícia Civil de Goiás prendeu nesta segunda-feira, em flagrante, a empresária da construção civil Silvia Calabrese Lima, de 49 anos, acusada de torturar uma menina de 12 anos que foi encontrada pelos policiais acorrentada e amordaçada num apartamento no setor Marista, região nobre de Goiânia. A criança, que teria sido adotada ilegalmente, foi achada graças a uma denúncia anônima. Ela tinha sinais de tortura: unhas arrancadas, língua cortada e marcas de queimadura de ferro nas nádegas. A cena chegou a levar às lágrimas delegados e agentes que libertaram a menina.

No flagrante, a polícia filmou a adolescente presa a uma escada de ferro no terraço do apartamento e amordaçada com esparadrapos.

- Só a psiquiatria pode explicar o que é tamanha crueldade - disse a delegada Adriana Accorsi.

A empresária, que tem três filhos, de 3, 21 e 20 anos, reagiu irritada à prisão e disse que só falará em juízo.

Ela foi submetida a perícia e levada para o Conselho Tutelar de Goiânia, e por enquanto vai ficar em um abrigo para menores, em tratamento psicológico.
A menina confirmou que a empregada também a agredia, e que uma vez a forçou a ingerir fezes e urina de cachorro


Os policiais prenderam também a empregada doméstica da família, Vanice Maria Novais, de 26 anos, acusada de participação nos crimes.

Ela negou envolvimento nas agressões e alegou que era obrigada pela patroa a manter sigilo. Segundo a delegada Adriana Accorsi, da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, a própria menina denunciou a doméstica.

- A menina confirmou que a empregada também a agredia, e que uma vez a forçou a ingerir fezes e urina de cachorro.

Ainda em estado de choque, a menina contou que os maus-tratos começaram há seis meses. Uma agenda apreendida relacionava as tarefas domésticas - algumas de madrugada - a serem cumpridas pela menina. Ela contou que, quando não conseguia, era torturada por Silvia com métodos que incluíam afogamento e privações de água e comida.

A polícia procura o marido de Silvia, o engenheiro Marco Antônio Calabrese.

A polícia apurou que a menina foi deixada pela mãe com a empresária há dois anos, para estudar em Goiânia. Ela cursaria a 6ª série, mas não freqüenta a escola desde o ano passado, porque foi reprovada por faltas. Segundo a delegada, não houve processo formal de adoção.
Pedia ajuda a Deus. Agora, quero ser feliz com o meu pai e estudar. E ter minha bicicleta


A menina revelou que a mãe mora em Pires do Rio, a 240 quilômetros de Goiânia, e o pai na capital. A polícia busca a família. Na delegacia, ela disse que quer voltar a viver com os pais:

- Pedia ajuda a Deus. Agora, quero ser feliz com o meu pai e estudar. E ter minha bicicleta.

A empresária e a doméstica foram autuadas em flagrante e devem responder por tortura e cárcere privado. A pena prevista é de até 24 anos de prisão.