domingo, março 30, 2008

Pó... de arroz




Boas!

Para não maçar muito o nosso extenso auditório (tão extenso que até ecoa) vamos tentar ser sucintos e poupar na tinta. Depois de terem visto este magnífico vídeo de Carlos Paião, agora muito em voga porque foi lançada uma colectânea, o meu post irá tornar-se claro como a água... ou branco como o pó. Veremos...

Hoje acordei tarde... com a cabeça pesada e o cérebro entorpecido. Tive de me vestir rápidamente e sair, coisa que detesto. Os óculos escuros ajudaram a enfrentar o dia, mas não fizeram milagres. Entro na cozinha e entre restos de almoço e crianças em delírios de açucar, a televisão... esse objecto terrível debitava esta música e este vídeo. Ia ao frigorífico ver o que se passava em termos de alimentação, mas rapidamente mudei de ideias e fugi. Pronto, todo um dia se passa - por outras palavras, mais uma feliz dose de higiénico embrutecimento e de companhia humana - e às 4 e tal da manhã quando regresso está a dar o mesmo programa, mas em repetição claro. Enquanto como um pequeno repasto de leite e bolachas aparece novamente esta música, só que agora eu ouço-a com ouvidos de ouvir e devidamente enquadrada no seu contexto histórico. Lançada em 1981, ano associado ao consumo de BRAAAAAANCAAAA, a sua letra começou a remeter-me para outros pós e outras realidades que não o encontro eroticamente pueril que uma audição descuidada poderia encontrar. Vejamos a letra:

Pó De Arroz
Carlos Paiao

Composição: Carlos Paião

Pó de Arroz,
Na face das pequenas
Será beleza apenas, só
Uma corzinha com

Pó de arroz
Rosa é, mulher o pôs
E o homem vai nas cenas
Eva e Adão outra vez

É como enfeitar um embrulho
Arroz com gorgulho talvez



REFRÃO: Pó de arroz
Do teu arrozal
Esse pó que é fatal
És a tal que se encanta com

Pó de Arroz
Não faz nenhum mal
É de arroz integral
Infernal, quando chegas com
Todo o teu arroz (bis)



Pó de Arroz
Tens hoje só pra mim
Pós de perlimpimpim
És um arroz doce sim

Pode ser
Um canto de sereia
Serei a tua teia
E tu serás meu algoz

Mas quando te vais alindar
Alindada vens dar no arroz


Para além de várias escolhas muito questionáveis a nível metafórico, eu acho que a história que esta simples música conta é muito profunda. Sabendo que a cocaína é um estimulante que acelera o ritmo cardíaco e dilata os vasos sanguíneos, vulgarmente conhecida em português como "pó", é de pensar que este pode causar algum rubor aos seus utilizadores, tal como é dito nas primeiros versos das primeiras estrofes. Esse rubor, indício de excitação sexual (algo que o uso de cocaína também causa), está presente na tensão sexual do verso "Eva e Adão outra vez". Contudo, para provar o que digo, acho que basta nos debruçarmos sobre o refrão:

Pó de arroz
Do teu arrozal
Esse pó que é fatal
És a tal que se encanta com

Pó de Arroz
Não faz nenhum mal
É de arroz integral
Infernal, quando chegas com
Todo o teu arroz (bis)

Acho que estes versos exprimem a natureza dúplice de uma análise de um vício. De alguém dividido entre o asco e a necessidade. Acho também que carlos paião nos tentava dizer algo. Será que teve uma visão das décadas seguintes ou cantava uma tragédia pessoal? Porque é inegável dizer que, nesta letra, há uma mulher que lhe trazia pó, da sua reserva (leia-se "arrozal")- podemos até dizer que ela era o pó. Pó esse fatal e infernal, mas também inofensivo e integral. Toda a música segue neste registo de encontros com a mulher o homem e o pó que, tal como a mulher, é símbolo de tentação. E, na última estrofe, surge a chave: "Mas quando te vais alindar/Alindada vens dar no arroz". Ela regressa mais bela, com um brilho nos olhos talvez(?), para dar no arroz... no pó... de arroz.

Entre "pós de perlimpimpim" a intensidade da interpretação leva-me a pensar que será um tema que lhe está próximo... que carlos paião sabia muito bem do que falava. Ele sabia que o pó... de arroz "Pode ser/Um canto de sereia/Serei a tua teia/E tu serás meu algoz".

Ouçam a música novamente se acharem necessário e tirem as vossas próprias conclusões... Há uma verdade em todo o lado!



josé de arimateia, a emitir do lado semiótico da insónia

4 Comentários:

Blogger Ken Ewing Disse as coisas que se seguem:

Não me admirava que o gajo fosse mesmo brancas.
E como diz o provérbio:
" Médicos que nos tempos livres mandam branca e fazem canções acabam a dar voltas nos caixões. "

Abraço!

1/4/08 00:59

 
Blogger jóne Disse as coisas que se seguem:

boas!!!

daqui repórter jóne emitiendo para uma apreciaçãozeca...

ora pois quanto à (mo)vida do paião não me vou meter (até porque em pó deve estar ele desfeito a estas horas e porque já tenho as minhas própias cancões p'ra ir decifrando..)...

o que quero mesmo é sugerir uma leitura crítica do link que no texto dava pelo nome de braaanncaaa (http://www.mp.rj.gov.br/portal/page?_pageid=577,3857216&_dad=portal&_schema=PORTAL).

sim sim que já sabemos que faz mal e tal
o que fico é um bocado naquela com a quantidade de desinformação que circula por aí (e que muita vezes inclusivé contribui para alimentar mitos por vezes bastante perniciosos...)

desde logo,
há que ver---"anfetamina ou metanfetamina/ ecstasy (mdma)" - o ecstasy é que é a chamada metanfetamina;
en seguida, brutal...
---"Facilita a ejaculação, mas dificulta a ereção" UOU!! tá bem tá.... sem mais comentários, os preocupados que investiguem...

um abração zé!!!

cuando puderes vente pa'ká killo que te ofereço.... un finito!!!! yeah,

j

1/4/08 16:31

 
Blogger Unknown Disse as coisas que se seguem:

sim sim... o site que indicas, caro jone, tem muita desinformação e apenas está presente para se saber onde fui buscar a informação que tenho no post - a parte acerca do brilho nos olhos e do dilatamento dos vasos sanguíneos. Penso que a parte a que te referes está lá para brincar com os "fantasmas" de muita gente, tás a ver? Para conduzir a uma forma pueril de auto-censura.

Há outros estudos(http://www.annals.org/cgi/content/full/119/3/226) que dizem precisamente o contrário - se bem que, tal como em qualquer estado, "os resultados variem de tempos a tempos e de pessoa para pessoa".

Para a próxima escolherei um site menos evangelizador que os brasileiros... que muitas vezes caem numa tentativa de educar pela desinformação.

Contudo, ainda bem que o referes, como bom repórter da vida real, aliás, para os visitantes desta casa saberem aquilo que podem contar de quem, supostamente, deveria dar todas as informações, sem qualquer tipo de preconceitos, para os cidadãos decidirem o que querem para si mesmos de espírito consciente e livre.

as minhas desculpas...

e digo até que aceito esse fino e compro (finalmente) um six pack para nos embrutecermos meu amigo.

Forte abraço!

1/4/08 20:38

 
Blogger Pedrão Disse as coisas que se seguem:

Brancaaaa!!!

1/4/08 23:03

 

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