sexta-feira, junho 15, 2007

A menina da discórdia e o ódio entre pares.

Demasiado tempo fora do jardim. Demasiado. Fez com que acontecessem coisas demasiadas. Se bem me "lembra" não sento na relva húmida desde a estadia em Barcelona. Pois então comecemos pelo regresso.

As primeiras horas em Portugal fora de readaptação, como sempre depois da viagem. Sou inesperadamente abordado, no sentido de manifestar a minha opinião acerca do desaparecimento de uma tal menina inglesa. “Qual menina inglesa?” Estava completamente mergulhado no conforto da ignorância, que no caso só me estava a proteger de mais um espectáculo mediático. Não colocando em causa o esforço mantido pelos progenitores, o certo é que para a comunicação social opera um gigantesco processo de canibalização, comendo tudo o que há para roer a estas duas criaturas que fazem o que lhes compete, e que desesperarão quando uma bomba rebentar em qualquer lugar de importância e a história não vender mais revistas.

Estamos a viver mais um “caso inglês” e não quero abordar o tema pelas razões do costume. Melhor, o objectivo é falar sobre o tratamento que “inglaterra e os ingleses” têm protagonizado face à actuação da polícia portuguesa, da comunicação social, das autoridades, dos restaurantes e amoladores de facas. É certo que inglaterra tem manifestado sentimentos de desagrado. Manifestassem milhões de opiniões favoráveis e teriam popularidade zero: não vendem jornais.

Em todo o caso, grave é receber um e-mail de teor xenófobo que procura colocar seres humanos na forca pelo facto de serem “ingleses”, terminando com uma apelativa frase: “Ao fundo com a Inglaterra e puta que pariu os ingleses!" Depois de acusar inglaterra de “ (...) merdosos, que já no tempo da guerra afirmavam que a Europa estava completamente isolada pelo nevoeiro, estes ilhéus provincianos que em pleno século XXI continuam a conduzir fora de mão e a alimentar uma realeza de putaria, estes negreiros sem vergonha que espalharam e deixaram escravatura e racismo pelos quatro cantos do Mundo, estes arruaceiros de merda que espalham o terror pelos campos de futebol da Europa, têm o topete de viver trinta anos num país que lhes oferece um sol radioso, como eles nunca imaginaram existir, sem se darem ao trabalho de aprender uma palavra da nossa língua, ainda têm tempo de antena num canal de televisão nacional para falarem mal de nós?”

Isto é manifesto desespero de um portugal sem argumento, que recorre ao mais infame recurso anti direitos humanos. Não se trata de “baixar as calças” como diz o tal e-mail, mas de aproveitar a oportunidade para ter um gesto de elevação perante aqueles que conseguem chegar à TV e vociferar merda sobre o outro, independentemente de ser português ou croata.

O dito texto diz ainda que ainda há quem se admire por “ (…) meia dúzia de gatos-pingados, apreciadores de concursos televisivos, reabilitadores de apresentadeiras escorraçadas da política, façam do maior ditador do século vinte, o maior português de sempre.” Quanto a isto só há a dizer que “o maior português de todos os tempos” dizia que “Um país pobre é um país invencível.”, e a verdade é que ainda há muito homem de dinheiro que acredita nisto. O autor deste e-mail acaba de se colocar no mesmo saco da intolerância e trogloditagem.

Voltando a esmurrar a mesa,
Babince

1 Comentários:

Blogger Unknown Disse as coisas que se seguem:

Estes jornalistas....
agora, convém dizer que alguns dos "jornais" que têm criticado a actuação das autoridades portuguesas são tablóides... tipo, imaginem alguma das muitas revistas cor de rosa a criticar as autoridades...
agora, um dos factos que passou ao lado de muita gente e que é passível de crítica é o facto de o director desse caso ter sido acusado de tortura no desenvolvimento do caso joana... de tortura e de fazer almoços de negócio que duravam 2 horas e onde se bebia alcóol... e isto sim veio na imprensa inglesa....

quanto aos trogloditas... essa raça em vias de extinção mental...
hoje em dia usa-se tudo para afirmar a superioridade nacional: tendo em conta que no algarve, assim como no resto do país, há turistas, seria de esperar que alguém nas forças policiais falasse uma língua estrangeira... pelo menos. Assim poderia evitar-se o caso de o principal suspeito, o tal Murat, ter servido de interprete no caso... (se bem que, a um título pessoal, acho terrivelmente estranho que ele tenha sido acusado por uma repórter inglesa - parece-me desde o início uma tentativa de transformar uma "não-notícia" num exclusivo...). Ao senhor que escreveu o mail digo para ele deixar de viver no passado. A cada um o seu atavismo: o atavismo linguístico dos ingleses; o atavismo mental dos poprtugueses...

e cumprimentos ao regresso do gerente...

aquele abraço

15/6/07 17:14

 

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