quarta-feira, outubro 18, 2006

Rio para não "volir"! Rivolicionar por aí.

«Numa tentativa de acabar com o protesto de um grupo de actores e espectadores que se mantêm barricados há mais de 30 horas dentro do Teatro Rivoli, a Câmara Municipal do Porto decidiu cortar a iluminação ao teatro e colocar o ar condicionado no máximo do frio.»

In Correio da Manhã
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Na mínimo inacreditável as alternativas que a Câmara do Porto (CMP) tem encontrado para procurar demover os manifestantes que tomaram a iniciativa de, em nome de pelo menos 10.457 pessoas, que até ao momento subscreveram a petição em defesa de um Rivoli Teatro MUNICPAL público em www.juntosnorivoli.com. Quero crer que boa parte destes subscritores gostaria de poder estar dentro do Rivoli neste momento. Acredito que a quantidade de pessoas pertencentes à comunidade portugal que não teve oportunidade de se manifestar on-line é bem superior ao número de assinantes. Em todo caso, não havendo sequer mais um indivíduo disponível a participar no “abaixo-assinado on-line”, este é já um número bastante expressivo.

Agora. Tentar expulsar os manifestantes através de medidas do tipo “cortar a iluminação” e “colocar o ar condicionado no máximo do frio”, parece-me soberbamente patético. Ridículo. Cómico. Que argumentos terá a CMP para além destes? Mais um foi manifestado: o de encerrar as portas que permitiam a passagem de alimentos. Como pode a CMP resolver esta questão deste modo? O que pensarão os habitantes da cidade mediante o tratamento que o “poder autárquico” está a oferecer a estes concidadãos?

A privatização do Rivoli conduzirá este espaço, como já se referiu noutros artigos deste jardim, a mediocridade da sua programação face ao que habituou a cidade, excepção feita aos meses recentes em que se tornou praticamente um espaço de aluguer. Muitos levantam o dedo acusando que o Rivoli não é lucrativo e como tal não deve ser mantido. Respondo que não vou falar novamente em “ditadura de maioria”. Pergunto: quem vai ser capaz de manter o Rivoli 300 dias por ano, rentável, sem o forrar de produções que podemos assistir, até agora, em outros espaços da cidade como o Sá da Bandeira ou o Coliseu? Será esta a melhor forma de garantir a diversidade cultural da cidade? Quem se rala com isso?

Contando que a participação da CMP na Fundação Casa da Música e na Fundação de Serralves é altamente minoritária, que papel terá a autarquia na cultura da cidade, agora que pretende demitir-se de gerir um dos poucos espaços culturais que lhe compete salvaguardar? Onde estarão as companhias de teatro da cidade? As danças? Os concertos de jazz? As apresentações de projectos de animação das associações da cidade? Quem conseguirá manter tudo isto lucrativamente? Ninguém.

Costumo defender que as indústrias, o comércio, … são actividades naturalmente vocacionadas para o lucro, para a rentabilidade que permita gerar riqueza. A cultura, a educação e a saúde, não podem ser geridas com o foco no retorno financeiro. Alinhando por estes princípios teremos serviços progressivamente de pior qualidade e cada vez mais caros. Mais caro nos livros, nos medicamentos, nos cuidados de saúde primários, nos concertos, nas exposições, nos centros de saúde, nas cantinas das escolas, etc. Num cenário de privatização, então é o desastre. Aquilo que é de todos passará a ser de alguns.

Há coisas sobre as quais o olho do negócio não deverá incidir. Antes os olhares atentos na valorização do capital humano como único e exclusivo meio de capitalizar financeiramente a comunidade portugal. De resto, convido todos quantos se sentirem capazes de valorizar uma comunidade receptiva a uma construção participada da sociedade, e que, incontornavelmente, aqui não encontram retorno, a procurar alternativas. Avaliando a quantidade de declarações que se encontram na web acerca do assunto, há também muitos que acham certa a privatização do Rivoli e a indiferença face aos desejos do que consideram ser meia dúzia de pessoas, mas a estes eu não vou falar da “ditadura de maioria”.

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>> Parece-me que hoje há três grandes blocos sociais. 1) Os que têm a oportunidade e a vontade de se manter informados, formados, em alerta constante em relação aos movimentos perpetrados por um 2) segundo bloco, altamente informado, formado, em alerta constante face a 3) um último bloco letárgico, que “compra” todas as ideias que o poder político lhe “vende” e que baralhado pela amálgama de coisas, factos, produtos, jd$sue#lsd%ouise, … não pensa… reage animalmente.

>> Se emite pensamentos, não são de sua autoria ou tampouco os entendeu. Ao segundo bloco agrada-lhe que assim seja. Na verdade o terceiro bloco, massivo, é presa fácil nestas circunstâncias. Mais fácil quando deseducado e sem acesso às artes, à cultura, que tantas vezes são o gatilho para as reflexões que podem colocar em causa a hegemonia do segundo bloco.

>> Não capaz de descodificar uns, o terceiro bloco também não é capaz de descodificar aquele primeiro bloco, pois fala demasiado sério e sobre coisas que, supostamente, “não colocam comida na mesa”, excepto se formos actores, músicos, iluminadores, técnicos de som, empregados de bilheteira, e por aí adiante. E assim nos mantemos.

>> Em última análise, e mesmo que vencidos todos os argumentos da arte e da cultura, o que fazem estes artistas que não defenderem a manutenção dos seus postos de trabalho e do espaço que os acolhe! Em última análise, o Rivoli não é mais do que uma de muitas unidades de produção a encerrar na comunidade portugal, no entanto esta pertence, pelo menos, aos 238.954 habitantes da cidade do Porto.


Descarregando brutalmente uma parafernália de coisas,
Babince
babince@gmail.com