segunda-feira, outubro 09, 2006

Alguma Falta de Ar

Alguns dizem que é uma tempestade para onde somos atirados como um cão sem um osso (Riders on The Storm), outros mais pessimistas dizem que é uma hedionda viagem por um labirinto de tormento, outros dizem que é uma bela viagem, mesmo não sabendo onde vai acabar.
Falo, claro, dos 60/70 anos (em média) que nos foram concedidos e da realidade, ou espectro da realidade, a que, sem saber como, nem porquê, viemos parar. Existe uma unica certeza, todos concordarão que é um milagre, não no sentido religioso, mas tendo em conta que não conseguimos explicar a nossa própria existência, é algo que nos transcende, filósofos, cientistas e padres/teólogos podem especular mas esbarram sempre no mesmo: o absurdo.
Eu até acredito em Deus, não o Deus da Igreja Católica ou de qualquer outra religião, mas o Criador do Universo, a fonte de onde emana toda a energia e sentimentos agradáveis que tornam a existência humana ligeiramente divina.
Só que o absurdo da realidade quotidiana, e o facto de ter alguma dificuldade em lidar com ela num estado de consciência normal, sufoca-me um bocado, o nada absoluto de que está cheia dá-me uma certa vontade de vomitar.


" ...Assim decorria a vida pacífica de Akáki Akákievitch, conselheiro titular, um funcionário de cargo pouco digno de nota num departamento ( transcrevia documentos á pena 12 horas por dia) que, recebendo um vencimento anual de 400 rublos, sabia estar contente com a sua sorte, e assim decorreria talvez até á sua profunda velhice não fora existirem desgraças várias que se atravessam nos caminhos da vida... não só dos conselheiros titulares mas também dos conselheiros privados, efectivos, áulicos e de todo o género de conselheiros, mesmo daqueles que não aceitam nem dão conselhos a ninguém... dos czares e dos soberanos deste mundo."

" Por pouco não desatou a rir de alegria. Contudo, nada neste mundo é duradouro, e por tal, também a alegria do segundo minuto já não é tão viva como a do primeiro; ao terceiro minuto fica ainda mais fraca e, por fim, acaba por fundir-se com o estado de ânimo normal, como o círculo que a pedrinha faz na água se adelga e finalmente se funde na superfície lisa do charco. "


Nikolai Gogol
em "Histórias de São Petersburgo e Outros Contos"




Saudações e Abraço!

As minhas desculpas ao jardim pelo longo período de ausência.