sábado, setembro 06, 2008

Dizem-se Coisas!

"Vede - prosseguiu Zenão. - Para lá desta aldeia, há outras aldeias, para lá desta abadia, outras abadias, para lá desta fortaleza, outras fortalezas. E no interior de cada castelo de ideias, de cada pardieiro de opiniões sobrepostas aos pardieiros de madeira e aos castelos de pedra, a vida empareda os loucos e abre uma fresta aos sábios. Para além dos Alpes, há a Itália. Para além dos Pirinéus, a Espanha. De um lado, a terra de Mirândola, do outro, a de Avicena. E, mais além ainda, o mar, e, para lá do mar, na outra borda da imensidão, a Arábia, a Moreia, a Índia, as duas Américas. E, por toda a parte, vales onde se recolhem os simples, rochas onde se escondem os metais, cada um dos quais simboliza um momento da Grande Obra, engrimanços colocados entre os dentes dos mortos, deuses cada qual com a sua promessa pessoal, multidões em que cada homem se apresenta como centro do universo. Quem pode haver tão insensato que se deixe morrer sem ter dado, pelo menos, uma volta à sua prisão? Como vedes, irmão Henrique, sou na verdade um peregrino. Longo é o caminho, mas eu sou jovem."

A Obra ao Negro de Marguerite Yourcenar

Tateando os cantos da sua prisão,
Babince