quinta-feira, fevereiro 14, 2008

Crimes Exemplares

Sou Barbeiro. É uma coisa que pode acontecer a qualquer pessoa. Quero dizer que até esse dia fui um bom barbeiro. Cada qual tem as suas manias, eu não gosto de borbulhas.
Aconteceu assim: Comecei a barbeá-lo calmamente, ensaboei-o com habilidade, afiei a navalha no braço da cadeira e suavizei-a na palma da mão. Sou um bom barbeiro! Nunca cortei ninguém e ainda por cima este tipo tinha uma barba muito espessa. Mas tinha borbulhas. Não havia nada de especial, no entanto, incomodavam-me, revolviam-me as tripas.
A primeira contornei-a bem, sem grande dificuldade, mas a segunda começou a sangrar. Então, não sei o que me deu, acho que é uma coisa muito natural, aprofundei a ferida e depois, sem poder deixar de o fazer, com um só golpe, cortei-lhe a cabeça...

Contado a frio no cárcere...

Depoimento (este e muitos mais) recolhido por Max Aub e editados em livro Crimes Exemplares.