segunda-feira, outubro 01, 2007

Faz falta um "reset".

Chegará o dia em que, como noutras fases da história do país e da humanidade, impor-se-á a necessidade de fazer um “reset” à máquina e regressar, não ao princípio, mas ao início de qualquer coisa que pretenda chegar a outro destino menos igual a este que nos mostram por estes dias.

A organização das sociedades sempre jogou com interesses de vocação económica. Por tempos podíamos falar em alguns sectores de certo modo blindados, protegidos do óculo economicista. Em todo o caso, a produção de instruídos nos saberes económicos proliferou e estamos perante a vigência de um paradigma que defende a obtenção de resultados economicamente “favoráveis” quer no comércio de mata-moscas, quer na distribuição de paracetamol. É um facto: há um gestor em cada canto. Funcionar bem, hoje, significa funcionar barato. Ganhar, liderar, vencer, obter, aumentar, produzir (…)!

Do Estado.

O estado cria serviços. Uma enormidade de serviços servidos ao jantar. Com as “notícias”. As empresas criam-se na hora; as carteiras que se perderam agora são renovadas documento-a-documento num só gabinete; os jovens compram computadores a preços reduzidos, adiante… Acções que compete ao estado conceber e concretizar, qual administrador de condomínio. É a sua função.

A bem do interesse de todos, o estado representa uma fábrica de novidades! É a festa da “novidade”. A época de saldos é cada vez mais identificável. Os agentes de comunicação agradecem. A matéria-prima é boa, chega pronta a usar e vende como pipocas no cinema - isto daria outro tema não menos interessante. O estado agradece igualmente: televisão é verdade, jornal é mais verdade ainda.

São conhecidos os dotes do estado em matéria de propaganda. A sua orientação apenas depende de quem se encontra na posse dos comandos vitais. Todavia, independentemente de quem o gere, a figura “estado” tem uma especial vocação propagandista. Trata-se de uma instituição à qual as massas fazem orelha. Move, invariavelmente, os planos fundamentais que determinam muito do que somos colectivamente. Por tal, o estado comunica para muita gente. O estado tem muito público. E o estado e os estadistas sabem do marketing e de como vender sabões. Quando não sabem pagam a quem sabe. Não será absurdo dizer-se que, em bom rigor, há dinheiros transferidos para o domínio do estado usados para iludir aqueles que o transferem. No limite, muitos pensarão que quem não paga é que sabe o que está a fazer. Mas não vou por aí. Há aqueles que não bufam.

Da agricultura.

O continente africano vive em colapso eminente. Alguns dirão que estes termos tão-pouco se aplicam a África. Só se justifica o colapso quando há estrutura e África não tem estrutura. Ouro, petróleo, diamantes. O principal recurso africano, além das pessoas – óbvio – é o solo! África tem condições para se alimentar bem e como deve ser: barato. Todavia a produção agrícola não encontra meios de viabilidade em resultado das políticas europeia e norte-americana. África produziria muito mais barato que a Europa ou os U.S.A. não fosse os subsídios que os agricultores recebem para poder manter-se competitivos.

A Europa importa poucos produtos africanos plantando-se na situação de fornecedor promíscuo, manipulador e voraz. Como pode a Europa ser o maior exportador de açúcar com os custos de produção que por aqui governam? Impossível? Não. Trata-se de um cenário possível porque a U.E. paga a diferença aos produtores para que estes possam competir e praticar preços amigáveis. E isto sucede em tantos outros produtos como quantos são possíveis produzir em África e na Europa. O resultado está à vista – ou talvez não. África abandona progressivamente a agricultura e morre à fome.

Não bastasse a manipulação dos preços em territórios de ficção, europeus e americanos – entre outros – ameaçam romper com as ajudas (educação, saúde, alimentação, …) aos países africanos que neguem importar os produtos dos primeiros. Estes: fecham-se aos produtos daqueles! Yupie! Onde está o botão? O reset?

Alguém dizia que “(…) ou importamos os produtos deles [dos africanos] ou importamo-los a eles.” A verdade é que isto me parece tão explícito que nem quero acrescentar palavra. Apenas isto: venham todos, “isto” também vos pertence.

Da frustração geral.

O que fariam os agricultores da U.E. se África se tornasse a horta do mundo, arremessando o mercado europeu para uma inoperância gritante mediante um mercado justo, livre e igual para todos? Teriam de dedicar-se a outros afazeres.

Digo isto porque me parece que iriam fazer daquilo que não gostam, não sabem, ou não querem. Este é o cenário geral. Reina a frustração. A maioria diz não fazer o que gosta. O povo está triste. Triste como deve ser. Vulnerável como convém. Quem precisa saber disto, sabe. E vê-se que sabe… todos os dias, sempre que abrimos os jornais ou pedimos a um cliente de café que expresse a sua opinião. Aquela ladainha que ouvimos a todo o momento. Redundante. Inconclusiva. Como deve ser.

Plim,
Babince