terça-feira, fevereiro 24, 2009

O último bastião moral do reino

Boas!

Todos sabemos que a moral e os bons costumes andam ameaçados por esta onda de modernidade que nos chega a casa e aos olhos sem dificuldade. O Santo Padre, ou Paizinho para os amigos, já nos avisou que a internet e os computadores e as televisões são a raíz do mal, mas este caso foi provocado por um inimigo muito mais antigo: os livros - e toda a gente sabe o que era o Índex, não?

Nas palavras de um amigo que também é um dos jardineiros virtuais deste blog, Braga é uma cidade de padres e putas - perdoe-se o exagero normal nestes jardins. Ora bem, este equilíbrio entre luz e sombra, esta luta entre bem e mal fez mais uma vítima.

Num gesto que se começa a tornar comum nesta democracia liberal que é a nossa, agentes da PSP de Braga apreenderam 5 exemplares de um livro de nome "Pornocracia", de Catherine Breillat - sem mais informações sobre o conteúdo podemos sempre pensar que se debruçava sobre as possibilidades burocráticas da pornografia soft ou hard.

O motivo: esparramada na capa uma imagem com um peludo e frondoso sexo feminino, obra de Gustave Courbet, pintor francês do século XIX ligado ao moviemento Realista.

Segundo a notícia vinculada pelo Público, a PSP fez isso como “uma medida cautelar para evitar uma alteração da ordem pública e o cometimento de outros crimes” e o facto de no auto estar indicado um conteúdo pornográfico foi apenas uma “confusão” dos agentes da PSP com o título da obra em causa".

Deo gratias pela intervenção atempada da PSP que assim impediu que as crianças bracarenses ficassem marcadas para toda a vida por um sexo peludo num corpo roliço - a estética feminina do século XIX era algo mais para o cheia e mais pilosa...

Penso que o pintor ficaria contente com este resultado em pleno século XXI. E porquê? Aparentemente este senhor gostava de afrontar a moralidade burguesa, para quem não sabe hipocritamente devota e religiosa, com a sua arte. Contudo, a qualidade técnica da sua execução levou ao reconhecimento e a obra em causa está exposta no Musée d'Orsay em Paris que, como um bordel, recebe dinheiro das pessoas para expor estas "porcarias".

Ironicamente, cerca de 200 anos depois de ter sido pintada continua a ofender a moral e os bons costumes e até a confundir os mais treinados newsmakers da praça - no telejornal da noite na TVI o autor da pintura foi indicado como sendo "um pintor renascentista".

Pessoalmente, acho que se poderia fazer um pealing na obra: se ela perdesse 20 quilos e com uma depilação à brasileira ficava digna de aparecer numa das muitas boites da zona de Braga... assim por cima do balcão onde elas se encostam.

E agora, algo completamente normal: